Todos nós temos uma espécie de carapaça, mais dura, mais
espessa ou mais frágil mas todos a temos.
Há quem a use constantemente, há quem a use com habilidade
sempre que necessita com uma confiança que mete inveja e quem simplesmente só a
consiga usar em modo de sobrevivência.
Quem a usa constantemente impede-se a si próprio de viver e
experienciar a vida como um todo, pois nunca baixa a guarda, nunca deixa
ninguém conhece-lo verdadeiramente, nunca sofre verdadeiramente mas também não
partilha e não ama com a profundidade e intensidade características do amor.
Quem usa a sua carapaça com inteligência e raciocínio são as
pessoas mais felizes, as ponderadas, as equilibradas que conseguem discernir
quando devem baixar as defesas e quando devem construir um muro à sua volta.
As que só conseguem erguer a carapaça quando é uma questão
de sobrevivência, são sem dúvida as que experienciam mais, as que sentem mais,
as que vivem mais intensamente mas também as que sofrem mais como consequência.
Não se consegue ter o melhor dois mundos, não há amor
verdadeiro e profundo sem sofrimento, sem medo, sem o terror de perder a pessoa
amada ou o receio de os dias, os meses e os anos não serem suficientes para
viver ao seu lado.
Quando a carapaça nos cresce nas costas quase que parece sem
aviso, de repente mudamos de atitude, ficamos frios, insensíveis, impenetráveis
dentro de um muro transparente que não há nada que derrube.
Quando nos apercebemos já estamos encerrados na numa redoma
de vidro que mais parece aço, frio e inquebrável.
Forçar a armadura apenas a tornará mais forte e resistente,
só com tempo e com o silêncio as coisas voltarão ao seu estado normal e
carapaça tornar-se-á menos espessa, mais maleável e acabará por desaparecer.
Algumas coisas só se curam com o tempo, não há outro tipo de
remédio por mais doce que seja que consiga adoçar o fel que nos levou a colocar
a couraça dura. Paciência, introspeção e análise são o caminho para a retirar. Sem
pressas ou urgências, temos de deixa-la sair lentamente para que voltemos a estar
em sintonia com um mundo, para que nos voltemos a sentir seguros fora da nossa
redoma e possamos novamente viver sem prisões e sem amarras.